Intocar
Liberto as palavras quando
não lhes toco.
Sempre.
As agrafadas inibem
o uso
de outras. As intangíveis.
As que não escrevo não existem.
São imensas. Porque não existem.
Mas é nessas que a pontilha metálica franja
as que quero possuir.
O espaço em que o agrafo se dobra em arco e enforma
abdómen de
ponte suspensa sobre a água corrente.
É o lugar onde
se realiza o binómio da palavra.
É no vácuo
translúcido e impalpável
em que o arco se suspende
que sou tocada.
Ou seria
ponte suspensa sobre a água corrente.
Mas esse ser não é o meu.
Esse é o ser da palavra tocada.
Atrás do infinito alojam-se
sem tecto
as palavras que desconhecem
o meu tacto.
São as que não escrevendo evoco.
Livres de maltrato
e eu nelas suspensa
em arco.
Tudo o mais são frases ou
aquedutos fossilizados.
Que transportam o mesmo.
Mas nunca o vácuo que adormece entre a
ponte suspensa sobre a água corrente.
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