.................OU SEJA, UMA CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA....................................................................................................

quarta-feira, março 30, 2005

É imperativo amar sorrindo

Aguardo as flores.
Vamos brincar amores
Como abelhas nos sobrados.
A seguir às dores
Reverdecem prados.

segunda-feira, março 28, 2005

A nudez

[A nudez
será sempre a melhor forma
de nos cobrirmos.
Como ficar a fabricar flores
frescas nas tuas costas
se não com as polpas de dedos e lábios
a tecer espantos
de arrepios de espasmos?]

A pele texturada
de amores antigos sabe que
amar se faz amando em todos os planos
e todos os recomeços
são estreias sem estrias
e todos novos os enganos
dos sentidos.

suco lento

Acho que amadureci
No pretexto de te espremer os lábios.
Sei agora que a boca
É um contexto para fermentar o mosto
De cada um e todos
Esses frutos, vários.

domingo, março 27, 2005

Grace e aço

[Acaso alguém controla
as fronteiras dos astros?
Como poder traçar perpétuos
no meu ventre
se o olhar desmente
e o infinito é fátuo?]


O meu espaço
sou eu que o traço
; bricobraço e peito em aço.

Limpa os beijos no tapete da entrada.
Trazes a língua ensanguentada
e rasgar
amor
desgasta.

Desfaz o tédio no meu corpo.
Tenho a alma em open space
e o seu nome é grace

; nada a exausta.

Sopro

Projecta o sopro para a tua voz, de novo.
O ar sempre indiciou o desejo do voo
E nenhuma ave se despenhou no medo.
A asa escreve o percurso do enredo
Mas também o som inaudível
Que se inscreve no trajecto do segredo.

A voz, isenta de razões, presa ao movimento
Desprende, se liberta, o pensamento.

quinta-feira, março 24, 2005

Os meus mortos

Não consigo matar os meus mortos
Permanecem na biografia dos dias
Sem tortura de pregos ensanguentados.
Vivem aqui, manietados.
Resgatados de uma paz que não os deixa
Mantê-los longe, tranquilos pela distância.
Acusá-los ou enaltecê-los
Sem se advogar poderem
Vivem da vida que lhes permito terem
Quer na memória que lhes limpa a história
Quer na irreal estatura por não perecerem.
Os meus mortos existem na cerimónia
Impressa pelas memórias
Incapazes de os esquecerem.

quarta-feira, março 23, 2005

A dúvida disléxica sobre a mendicidade

Para quê mendigar
Beijos
Se dois lábios mentem unos
E dois mundos
Se dividem
Quando duas me abro em pernas?

Para quê mendigar
Pernas
Se dois mundos mentem lábios
E dois lábios
Mentem unos
Se dividida me dou em beijos?

Para quê mendigar
Mundos
Se duas pernas me abrem pernas
E dois lábios
Mentem com beijos
E unidos dividem unos?

segunda-feira, março 21, 2005

asas

as pombas todas
nos teus olhos
e os falcões
nas minhas mãos
. devorar-te
nenhum mistério de asas
rasga o voo
o horizonte
a queimar as pombas todas
nos teus olhos
. imolar-me

domingo, março 20, 2005

A preto e branco

Não me esquecem.
Não me deixam.

Ter memória e não saber
: se esquecer deixar
: se deixar esquecer
Sei que o dia a preto a branco
Esconde o detalhe da cor
: o céu azul, o mar azul
- os versos de amor, nem tanto.

Azul, se me esqueço.
Azul, se me deixo.

sábado, março 19, 2005

Demónios

Ainda tenho demónios
Na solidão dos sonhos
Que se desencrostam
Das sombras da noite
E a sibilar se mostram

Espalmo o pensamento contra a vidraça
Uma estrela faria toda a diferença

quinta-feira, março 17, 2005

seguro

não é a razão que procuro
se me vês aos círculos
é por seres tu quem gira
que eu fiquei parada
- quem pensa oscila -
até que entendas
a geometria do muro

nada circular procuro
apenas que escales as pedras seguro

quarta-feira, março 16, 2005

mineranimada

cristalizado
o desejo
dura, a eternidade
um beijo

a pedra no peito
puro magma
assiste, metamorfose
a água

mineranimada

livre leve

as palavras
penduradas
na tua boca fechada
- não fazem falta

livre
leve

ocupa-a
a coser beijos
e a destruir casas

o silêncio
pelas ruas
sem desenhos de calçada
- nem morada

livre
leve

com os braços abertos
abraçada
- não querer mais nada

terça-feira, março 15, 2005

entardecer contigo

o dia traça rotas
em retortas de luz oblíqua.
o declínio
da linha deitada
é vertical mal olhada.
mudo a posição.
rectifico
o dia
até serenar no crepúsculo
que se encosta à tua boca.
depois
depois é desenhar estrelas
até ser madrugada.
e antes de adormecer
sonhar contigo.

sexta-feira, março 11, 2005

Psicossomatizando

Porque
se engasta o pensamento
no lado
errado do peito?

Ah! Hipocrisia das ciências!...

O escalpe em sangue a esticar no horizonte
e o coração a renovar segredos.

quinta-feira, março 10, 2005

mostrar a esconder

nunca me escondo num poema.
é o poema que me escolhe para o esconder.
e saem frases caóticas se estiver caótica.
e frases assemânticas quando estou neurótica.
e eu escolho-as criteriosamente até parecer que as estou a dizer.
por vezes parece um poema.
por vezes não há poema; é só dizer.
é que ele equilibra-se melhor do que eu.
agora, por exemplo,
tenho um poema alojado em mim
e eu mostro-me por não o saber dizer.
podia até escrever com isso um poema
que continuava a existir um poema enorme por dizer.
nunca lamento um poema.
apenas mostro que ele está escondido.
não eu, se o tentar dizer.
adoro sentir um poema e guardá-lo sem o esconder.

quarta-feira, março 09, 2005

não acordes o amor

não acordes o amor
deixa que alise os dias
e soterre o cansaço
-
A brisa que sopra e agita as giestas
Muda as dunas num jeito de festas
Pendura amarelo na policromia do mar
Que o turbilhão do amor, ao passar
Muda a paisagem, as cores,
E temos os braços curtos para tanta orgia de amores
-
não o acordes
sossega o peito, as mãos frias
não tarda vemo-lo chegar

A linha

leve

a linha

sobre
__________

sob

a linha

pesa

sexta-feira, março 04, 2005

não sei

não quero amar
não sei
só sentimento
errando a pele
é dor bastante
e nascem estrelas nos olhos
que duram mais do que o instante
em que me perco
a pensar
que amar é bem

não quero ver
nem pensar
não sei
se é medo amar
me encolho
que se me encontro
sob o teu céu de desencontro
reclamo a luz
que o céu não tem
- e a sombra, eu sei

quinta-feira, março 03, 2005

O que eu queria

O que eu queria
era preferir o poliéster aos fios orgânicos
as flores de plástico às imperfeições dos gerânios
Mas assim privar-me-ia
de poder amar o honesto em cada resto
e a eternidade seria um insucesso por cada dia

terça-feira, março 01, 2005

em carne viva

experimenta
falar em carne viva
verás se tem nexo o teorema
quando a língua perde a memória

amar é um idioma que balbucio
e cada beijo erra um vocábulo