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sexta-feira, maio 30, 2008

ser poeta


sai o verbo das gramáticas
quando lido
e ganha novos sentidos
como quando
destes dedos
a vontade se desprende
e a verbo rende
esbaforidos
cada um e todos
os mais recônditos sentidos
frase a frase
letra a letra
sem ponto ou vírgula que submeta
limite ou pausa
e ensaie sôfrego
o impulso solto
de pela escrita o escravizar
a uma vontade incontrolada
de ser palavra
a correr louca
pára se alcança o orgasmo
o espasmo
de ser poema em tua boca

quarta-feira, maio 28, 2008

clonagem - manufacturas


incartografável
o homem
saiu de si
abandonando-se
das lágrimas
avulsamente polinizado
a nenhum sítio pertence
lugar algum o reclama

a geografia humana será mapeada
até que o sal a seque

terça-feira, maio 27, 2008

clonagem


a geografia humana será mapeada

________ incartografável ________

[
(o homem)
saiu de si
( ~ abandonando-se ~ )

a nenhum sítio pertence
lugar algum o reclama

( \ avulsamente polinizado )
]

até que o sal
( ~ das lágrimas ~ )
a seque

sexta-feira, maio 23, 2008

escrevo para pensar


diz-se que escrevo
para poder pensar mas
o que penso escrever escreve apenas
sem que diga o que penso e
o pensamento a descrever se faz

diz-se que digo da escrita
para poder dizer mas penso que escrevo apenas
sem que diga o que escrevo e
o pensamento ao dizer desfaz

se alguma coisa me prende
desprende-se o pensamento nela
e a escrita vai atrás dele sem nela mais se apegar
por isso escrevo por ela
por isso largo atrás dela pensamento escrita à vela
para dizer que se escrevo é apenas para pensar

diz-se que escrevo e não digo
penso o que escrevo e prossigo
se penso que o consigo duvido e volto ao mesmo lugar
nenhum pensamento é abrigo se a meta é escrever sem pensar

digo que escrevo e não penso
que a cada novo começo ela me foge ao pensar
escrever é mero pretexto de fazer de cada texto
um pensamento um lugar

quinta-feira, maio 22, 2008

s/título


Não há objecto que fale por mim
Em contrapartida
sou objecto da minha fala
Adorno o espaço que o meu silêncio sempre ocupa
Na decadência da luz
qualquer sombra nos absorve

quarta-feira, maio 21, 2008

labirinto


Depois de decifrado
o labirinto
enrolei metros de recta
para descobrir que
deliciosos
eram os ângulos!…
Então
divertida
como criança
que seriamente brinca
devolvi-a à sua real importância
: reintegrei-a
num labirinto
. E repousei
a contemplar a obra reparada.

sábado, maio 17, 2008

.deslocalização.


                          nenhuma urgência no mundo
                  depende de
                              um poema

                          nenhuma urgência no mundo
                  é já por si
                              um poema

quarta-feira, maio 14, 2008

desejo suave


experimento a barbárie
de um desejo suave
há nele uma superioridade
de dedos supérfluos

se a escrita desliza fica por conta própria
qual líquido escorrendo
a desaguar na memória dos dias

no mais
é sempre a morte a repetir-se
a incendiar as cinzas
ao espólio do pensamento

terça-feira, maio 13, 2008

olhar para trás


Não estavam já ali. Talvez
    a ausência
os tivesse chamado para outros lugares
para outros pomares. Talvez
    a memória
essa arrecadação de polpas
    do paraíso
os tenha atraído à maçã primordial.

sábado, maio 10, 2008

ó poeta estranho


Não. Não me vejas só
por mim. Nem só. De mim
um crânio sobrará. E ossos. Como
os que quando escrevo
vou quebrando. O crânio
por duro
inteiro se observará
não tanto quanto só quebrando
o escrevo. Não. Nem só.
Deste ser que escreve nem um só
osso eu conheço. Mas sinto-lhe a carne
e quebro-me quando
a cada frase escrita
se solta um osso. O crânio
me dita ao doer nele a ossada
de cada palavra mais ousada.
No mais
estou só. Em mim sem corpo.
Na escrita entrecruzada.

sexta-feira, maio 09, 2008

o.r.d.e.n.a.r


Se categorizasse
cada único gesto teu
como te arrumaria?
Em inúmeras ordenações
sendo que a nenhuma pertencerias.
Ainda que me detenha
meticulosa
olhando uma única rosa
- escolho e recorro ao que o socorro
pertence a rosa - de entre as rosas
esqueceria a que é bravia.
Por isso esquece - deter-me-ei por algo em ão
como emoção ou até razão até esgotar o coração
de fantasia.
Sem argumento
esqueço o momento em que elegia
escolher falar-te. Pois
nada entendes de gente livre
nem de poesia.

quinta-feira, maio 08, 2008

a minha rua


há uma fiada de muros ao longo da minha rua
por onde os gatos caminham. de vez em quando
um hiato de portão. uma sebe
bem cortada espigada por flores teimosas.
um som de porta de carro
bate no silêncio e distrai-me os cotovelos
do parapeito da janela. o moderador da minha atenção
segue a fiada de muros ao longo da minha rua
e integra o hiato de um portão. um som de porta de casa
ecoa a batida anterior no silêncio e distrai-me dos cotovelos.
há uma fiada de parapeitos ao longo da minha sebe
bem cortada de gatos que caminham por flores teimosas.
a minha rua é uma janela espigada por onde
caminham os meus pensamentos porque
há um lar de vez em quando onde os gatos se detêm.

quarta-feira, maio 07, 2008

anónimo acto


finalmente
tenho por profissão descrever
nada de importante. a vida suave e redonda
que nada altera e ninguém que agite
a quietude das horas certas.

a importância é morosa de artifícios árduos
sempre exigente por provas expiradas. compleição enxuta que
rescende a colónias como se por deuses
o labor sudasse. não. desta vez
há homens dentro desta história.

homens pequeninos da estatura de homens. de estrutura
mansa sem longas palavras. pensares em forma de
bifes no prato e prantos bravios com lágrimas e socos.
a mole anónima presta-se a enlaces
pois simples, folclóricos, do real fadado, têm
complexos minúsculos com anexos ralos.
nos sonhos pululam crianças que berram
brigas com fadigas de pais separados. esp’rança em medalhinha
em fio fino dourado faz pendant com as pérolas
no anel de noivado. o dia é uma rota ainda que enfadonho
e o clima suporta queixa e desconsolo.

não. nesta história houve homens de perfil bem sério. mais alma que corpo
que o coração é que manda. sabe-se lá se choram
sabe-se lá porque amam. quem faz perguntas
vive pouco o plano e se se explica há por certo engano.

finalmente
integram o que é importante. transpiram
subúrbio. obedecem a um amo.

terça-feira, maio 06, 2008

inumano


a atenção
para a frente se redige - o pescoço hirto -

nenhum fascínio
a redirige. a lua - um disco plano - imóvel
poalha de poemas - sobra

        há uma hérnia nos dedos
        há uma catarata na íris
        há um homem a mais - que soçobra -


e um prisma invertido
divertido com antigos medos

segunda-feira, maio 05, 2008

papel memória


não sei porque não se escreve a luz
que cada um emana

se cada indelével
raio
única assinatura
traz nos caracteres inscrita
a criatura

(porque se impressiona
no papel memória
o panning da amargura?)

domingo, maio 04, 2008

Tu és o outro


Tu és o outro
-- que outros outros despedaço --
Em ti não quero fímbria de remorso!

Regaço aberto
-- que outro novo abraço --
Em mim só fogo bravo e sempre moço!

Enquanto assim escorrer de mim
o tempo—lasso o laço—
Solto o brado e lanço o braço!



Nenhum recado o amante eleva
além do muito querer—depois não querer—
Perde o outro em si se a si se nega!

sexta-feira, maio 02, 2008

in.satisfação


| desafio duas impossibilidades:
despertar a tua fantasia ou adormecer a minha
| mjm


como se todas as cordas vibrassem
em uníssono
o mesmo silêncio. esgaça-se a mão
que o tange.
         a tua boca
a tua boca
timbra o som de todas as linguagens
que de longe te trouxe. são as mesmas
que nunca conheceste. o indivisível
plural.
             | as primeiras
de entre as mesmas. se repetidas são
inaudíveis reverberam. |
     evoca nome nenhum. nenhum nome toca
a emoção denunciada.
inominável segue.
             | o silêncio é o encontro de quem se acha. |
pingam palavras, da tua boca
     da tua boca
         o suco inevitável. ainda assim
nenhuma sede significando sede
será saciada.
             | sobre essa boca. esta outra
boca há-de ecoar numa linguagem
inusitada. |


quinta-feira, maio 01, 2008

fantasia


é intrigante
a fantasia.
achar o motivo
para entender
parece ser o nosso ofício.
mas é mania

[
corre o vento.
quando ele não corre
acaso dizemos
: pára o vento
?
]

deve ser mania
imaginar o vento
em eterna correria