.................OU SEJA, UMA CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA....................................................................................................

quarta-feira, novembro 30, 2005

zen.it.ando

ficar assim
inerte e espessa
leve, enfim, me deito
sobre o teu peito leito

sintagma que aglutina
amor e leito num só sujeito

sereno se, por fim, entendo
nada temer; nenhum medo haver
se a manhã não vem, se páro também
fico inerte e espessa
deixo que adormeças dentro do meu peito
leve, enfim, te deito

quinta-feira, novembro 24, 2005

a dor a ousar

se me custa pedir
mais dói faltar
o que preciso receber
sem pedir ousar
mas ouso
enfim
doer se é dor pedir
faltar é perceber
que custa
enfim
saber o quanto dói
a dor a ousar de
precisar

domingo, novembro 20, 2005

de.mim.go

é só
domingo
dor
em mim
minguo

.
é
domingo

de mim
mingua
a dor
é só
.

quinta-feira, novembro 17, 2005

A urgência de dizer

Quando sinto a urgência
de dizer
paro na curva exausta
dos teus lábios
e sorvo o teu silêncio
como metáfora
que escreve
em mim
o que não posso ler.
A urgência passa.
Calo a palavra
naquela que te abraça.
Aquela
que diz tudo
o que eu não sei dizer.

terça-feira, novembro 15, 2005

por culpa da lua

pensei
se vês a lua
quando te olhas por dentro
como a vejo eu aqui mesmo ao lado
distintamente a vimos ambos
sem a lua termos enquadrado
de como a vejo eu
pensei
parcos instantes
e quando a vislumbrei tão alheia a mim
entendi que sou quem muda
a cada instante
e ela alheia a tudo
como tu de mim
uso-a sem quase nada
dependurada ao peito como amuleto
desse compromisso
ela, porém, nada sabe
é ré por momentos
alheios a si
cíclica existe
como existem astros
que rodam, transladam cada qual per si
num conceito lácteo de regras e espaço
sem noção de um dia poderem ter fim
pensei
e por isso muito mais me afasto
dum ciclo ao qual ínfima pertenço
tal qual poalha
que não roga ao astro a magna importância
de um recomeço
pensei
se a lua que nos pertenceu
por sorte a vimos mesmo sem a olhar
não sabe ela sermos nós cativos
dela, pois que a submetemos
às regras de amar
há uma lua nova
em cada poema que parece igual
a cada um de nós, mas quem a retrata
cega, e, sem dilema
sabe que é diferente essa lua
em nós
por isso
pensei
rendê-la inocente
das fases que usurpo dessas faces dela
cedo a libertá-la deste meu poema
deixá-la ser lua e nós pó
sem ela

segunda-feira, novembro 14, 2005

ciciando


sou
sem
sombra

sossega
.
.
.
serena
passo
célere
sem
sentires

sábado, novembro 12, 2005

Noivar

Recebe
a flor fugaz como se essência e
adorna esses teus dias
os mais vulgares
Pois breve
dura o tempo da paixão
que funde o meu e o teu
no mesmo olhar
Porém, dessa paixão,
não fiquem laços
que inibam seres fiel
ao verbo amar
Atenta!
Efémero é o bemquerer
que exala dessa flor
que te vou dar
pois fenece, dura o tempo de a oferecer
se a malquerendo
o amor, a desmerecer

quinta-feira, novembro 10, 2005

Eco

Cristalino o dia
A estrear a cor
E eu antiga
Ainda
Sem saber onde recolher
O eco dos teus lábios nos meus lábios
Em ocaso e dor

terça-feira, novembro 08, 2005

circularidade

[ num pensamento circular, define-se um ponto e chama-se-lhe início. decide-se depois aquele que o sucede. é atribuído ao não escolhido o lugar de último. a proximidade entre o início e o final não erradica nenhum dos pontos que os medeiam; apenas define a ordem de cada um no percurso. ]

é neste limiar de desigualdade
que ninguém se encontra
: alguém ascende ao nunca-mais
: outro alguém descende do ainda-não
a periferia das emoções
é hegemónica
pois quase-nunca alguém se encontra
no mesmo presente
e prometem-se voltar ao futuro
engalanando a esperança profanada
mas revigorante de um passado
onde ninguém existiu
: ainda-nunca

domingo, novembro 06, 2005

com

há um céu com
um que nos abriga míope bast
ante para nos de
cifrar sem sub
stância

só aí somos igu
ais : repetindo a viagem das ilusões

no traçado carnal
um gri
to : a chamar o am
or para dentro dos sen
tidos

sexta-feira, novembro 04, 2005

uma lua apagada

há esta imagem
constante
de noites e noites
que se alongam pelos dias
exaustas
adormecem
esperam
que a luz descreva
o percurso
da tua chegada
sob cada pálpebra
uma lua
apagada

terça-feira, novembro 01, 2005

Talvez uma rima


[Talvez uma rima resolva os diálogos adormecidos. Talvez nessa métrica caibam certas detonações e até outras mais explosões do verbo. Uma rima improvável é quanto peço às palavras sem que as amasse com má pontuação. Ir pelos sons até ao pavilhão onde se transmutam emoções rente a instalações de imagens soltas. Desobrigar tempo e espaço e recriar a nova fronteira num livre acesso onde se adivinham harmónicos de uma voz engenhosa roçando a pele da língua. Talvez uma rima caótica, imprevisível e extensa, refracte a cor branca da cadência de um morfema e percorra infinitamente o espectro rupestre da palavra primeira e se alcance o verbo.]

talvez
nunca mais
uma palavra
se repita
da palavra que foi
dita
e nasça
plena
na aventura de
um poema