.................OU SEJA, UMA CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA....................................................................................................

sábado, agosto 26, 2006

Construções


Começou pelo fim feito deserto máximo
Fechou-se no seu quarto feito eremita rústico
E a cada dedilhada na guitarra acústica
O som embrionário se escondia opiácio
Vibrando entre dedos de ossos vetustos
Como se a eternidade fosse feita de plástico
E o seu desejo vário variasse em mono
Cercou-se de instrumentos de derrame inválido
Sorrisos comprimidos em dádivas últimas
Como se o seu destino fosse ser seu hóspede
Nasceu de mil bocados em alicerces torpes
A voz bem recolhida em colcheias de barro
Na música aflorando pedaços de escrita
A pele a vibrar sons sem nexo de consolo
Retornando ao embrião que gera sonhos cálidos
Caíu na encruzilhada dos desejos bárbaros
O amor era o corsário desses desejos vários

Começou pelo fim feito derrame inválido
Fechou-se no seu quarto feito um opiácio
E a cada dedilhada na guitarra de barro
O som embrionário se escondia cálido
Vibrando entre dedos de ossos acústicos
Como se a eternidade fosse feita de dádivas
E o seu desejo vário variasse em sonhos
Cercou-se de instrumentos eremitas rústicos
Sorrisos comprimidos em dádivas torpes
Como se o embrião gerasse sonhos bárbaros
Nasceu de mil bocados em alicerces plásticos
A voz bem recolhida em desertos últimos
Na música aflorando pedaços de mono
A pele a vibrar sons sem nenhum nexo máximo
Retornando ao embrião que gera corsários
Caíu na encruzilhada dos desejos vários
O amor era uma espécie de consolo hóspede

______
(contraponto ao Construção, Chico Buarque)

domingo, agosto 20, 2006

eu faço o ninho


quando as palavras têm o peso de um passarinho
eu faço o ninho
num canto do teu sorriso
alongo o olhar pelos pêlos dos teus braços
que são só braços
a luzirem ao luar
deixo-me entreter devagar
na paródia de uma história
num desfiar da memória

é leve e brilha a pupila
cintila levita sem ciso que me prenda
é só renda a rendilhar
brincamos no faz de conta
tu és quem conta eu sou a tonta
até o dia clarear

depois
jogamos palavras com emoção mais pesadas
espreitando nelas as margens do voo a saber voar

assim vamos
construindo coisas simples sem destino
imos novos novos rimos
sabemos nada assim vimos
sozinhos somos num par

quinta-feira, agosto 17, 2006

Epitáfio


De toda a coragem
A que lhe sobrara
Era a de dormir sem sonhos
Pois de sonhar cansara.
A noite de tão longa,
De tão negra e avara,
Tremendo o deixara.
Que o sono ora lhe forre
As penas da almofada.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Se quisesse enlouquecer, podia (*)


Mudos
Persistem os gritos
Continuamente
Infinitos
A asfixiarem-me a pele

Se quisesse
Enlouquecer, podia
Se a aragem da fantasia
Me penetrasse
Real

_______
(*) referência a uma frase de Herberto Helder: "Se eu quisesse, enlouquecia."

quarta-feira, agosto 02, 2006

tudo por dizer


tantos se alonjam
só tu permaneces
porque me habitas
és tu, amor
serás aquele que nunca foi nem está
serás aquele das horas todas
das palavras inomináveis
entorpecidas pelo não-dizer
há um lugar tranquilo
fascinante e intransitável
onde sempre estás deitado
no meu grito a entardecer
tantos se alonjam
só tu permaneces
pois nunca foste ou vieste
e eu com tudo por dizer