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quinta-feira, abril 29, 2004

aunque no tengas ganas

Abraça-me
esta noite, que se prolonga o vazio e o poema, quando fala, não preenche o silêncio ensurdecedor da tua ausência.
Sacode-me
o frio, abraça-me como se mergulhasse no turquesa caribeño e me esquecesse do arrepio da pele.
Envolve-me
como se não tivesse corpo e me dissolvesse no tépido do líquido.
Curva-te
sobre mim, como as palmeiras nas dunas da margem se enrolam na brisa quente a simular o teu abraço.
Enche-me
do teu hálito, como o jasmim à noite a libertar incensos do sol que o aqueceu.
Unge-me
com o teu perfume, como o faz a maresia quando encharca a areia.
Acorda
a vontade e simula que me afagas, como quem tem por missão desdobrar-se e aplacar as dores do mundo, tomando-as por suas.
Escorraça
o vazio e o frio e oferta-me paraísos toldados de púrpuras e atapetados de pétalas carnudas.
Abraça-me
esta noite, em carácter de urgência, que será a primeira de muitas últimas em derrames líquidos de mornos turquesa.

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