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quarta-feira, agosto 31, 2005

-la

pegar
num traço
de alma
espremê
-la e esquartejá
-la
mostrá
-la num poema
e depois rasgá
-la

terça-feira, agosto 30, 2005

Ser do ser um ente

Ser do ser um ente
Entre tantos
Sem saber
Com os anos
O que dizer
Sem voltar ao antes
Faz do dizer
Um modo antigo
De ter sido
Mas não é
Nem por instantes
O ser
O que havia de ser

sexta-feira, agosto 26, 2005

Idiomático

Acaso não entendas
O amor é idiomático
Depende de nuances de estilo
Sem nunca perder significado
Nem quando a língua que usa
Fala um outro imaginário

quarta-feira, agosto 24, 2005

O risco

Não há um único traço
Que risque inteligência
No amor
A abstracção é o risco

sábado, agosto 20, 2005

Perante os factos

Perante os factos
Pesa-se de memória os ensinamentos
Certos de poder com eles compreender
A trama ardilosa de vários momentos
Insucesso
A vida trama mentirosa
Ardila novos argumentos
E rende a tábua rasa tudo o que aprendemos
Surpreende
Devolve-nos rendidos ao presente

terça-feira, agosto 16, 2005

a pena da poesia

convicta
que o amor e a agonia
são frente e verso
esconde-se atrás do poema
a pena
escreve mágoa e alegria
dobra-se à dor
de um amor estranho
à luz do dia
milhentos versos
o constroem
existe e cresce em despudor
indiferente
aos olhos de quem o guia
usa da dor o mote
não da alegria
exerce o preconceito
mostra do peito
essa agonia

sustendo a pena
a pena da poesia
enaltece a dor mais do que devia

segunda-feira, agosto 15, 2005

intenção

não tenho nenhuma
intenção
de te mover
quero-te quieto
poder escrever
o lado fátuo das palavras

escapar à nomenclatura
que acende significados
no teu corpo


escrever

quinta-feira, agosto 11, 2005

Trago estranhos nas mãos!

eis o lugar onde o outro se abre
sereno e confiante como virgem
plasmada
o canto da terra sem céu por mantilha
ecoa no côncavo da
palavra

Trago estranhos nas mãos!

o artífice que talhou o gesto não sabe
que ainda aprendemos
os sentidos vários dos renascimentos
que entretemos
sem futuro o achado dos dias

sábado, agosto 06, 2005

Riddle

Escolher
dos acasos
um caso
será,
por acaso,
obra do acaso?
Por acaso,
não acho.
Mas
o acaso
não quer nada comigo;
apenas
me escolhe.
Por acaso?
De caso em caso,
propício
o acaso.
Quem escolhe?

sexta-feira, agosto 05, 2005

Cintel

Dolência enroscada em sol
Alonga as horas
Mais tempo para passeares por mim
No cintel tranquilo
Da memória
Não tem pele, nem arrepio
Cheira a maduro
No Verão dos meus sentidos o dia é longo

Quando me aparto da canga
De outros sonhos
Estremeço Inverno

A míngua de um solo gasto
Pequeno o dia. Alimento exíguo, pele lassa
Ossos por ombros
Roda o cintel perdido
Da memória
Sem saber se volta o dia longo
Em que retornas novo
Sem retorno

quinta-feira, agosto 04, 2005

hey you

do fausto lhe ficou
o pechisbeque
empobrecida a arca
rico o vivido
grita come back
ninguém o ouve
nobody knows
troçam do louco
enricam de arca
: comam chiclete
arrebitem infelizes
os vossos noses
sábio foi ele
o mother fucker
mais rico se sente agora
sem o mercedes
do que you às vezes
alapados nas facturas
presos à vida oca
e sem loucuras
he knows

quarta-feira, agosto 03, 2005

A estátua

Marcar encontro com a distância
Procurar aí os materiais da estátua
E perceber a robustez da perenidade
O cinzel na pedra a contar a mesma história,
A história a parecer ali completa
Sob as patas dos pássaros e sem marcas
Dos olhos dos olhadores
Marcar encontro com a distância
Dos olhos, os nossos e os do poeta
E só os pássaros a ver-nos a ver a história
Sabem que aquela estátua, próxima na sua distância,
Faz parte da perenidade da história que se conta
Vezes sem fim, materializada na obra inacabada do poeta

terça-feira, agosto 02, 2005

Crente, menino

se te acontecer
o amor
esquece
o tinteiro
as palavras
quero encontrar-me
menino
crente
que o carteiro
vem
vindo
e que não
vai
trazer mágoas