Pintar murais
sempre as palavras
escondidas nos gestos
cíclicos e pontuais
a encharcar incêndios
a propagar tempestades
a saltar do dorso de verdades
escancaradas ou veladas
intemporais
anseio sempre por palavras novas
espero a reinvenção da duração das horas
para que se dilate o tempo
se evada da cadeia do momento
e se sinta a urgência
de pintar murais
mas os silêncios
resistem à erosão vagarosa
lapidam-nos memórias
roubam-nos pedaços
mutilam-nos sem parcimónias
e as palavras encostam-se
rendidas e mal nutridas
às investidas das horas
salto desse dorso e peço
que me chegue novo alento
que não se canse o tempo
de arrancar e limpar palavras
de revalidar as mais usadas
de mas perfumar como magnólias
ah! que inodoras demoras!
se me acerco das palavras
e se ao tempo mais tempo rogo
é porque sei que assim morro!
abraça-me forte em socorro
dá-me do amor o soro
com que se contam novas histórias
protege-me, ó tempo
do atropelo insano
com que se tecem silêncios
pejados de más memórias
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