Tão fácil falsear escrevendo
Tão fácil falsear escrevendo
Limar arestas, escancarar a fresta
E retocar na metáfora a evidência do que não presta!
Conspurcam as palavras só de as usar!
Arquitectos de sons, copistas de imagens
Todos falidos de esperança
Carregam fardos de inconstância
Embelezam ideias que não têm
E pensam que as palavras se sustêm
Sem caroço!? Torçam o pescoço!
Depois, há o carpir com carpideiras
Ensopar de mágoas as ideias
E servi-las em baixelas contrastadas
Fingindo que não são fanadas
E que até brilham fundidas
Sejam breves, ou compridas!
Que o importante é a catarse
Do que jorra sem parar!
E se o poeta se catasse?
Quem o mandou pôr-se a falar?!
Aos mudos não sobram gestos
E aos cegos se poupam excessos!
E eu divago; não digo nada
Fingindo-me amofinada!...
Quero lá saber da verve
Do que não se diz quando se escreve!
Quando se abre a boca e não sai nada
Está o universo, duma assentada,
A rir-se de nós, pobre rima inacabada...
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