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quarta-feira, junho 29, 2005

Encontrei isto dentro de um poema

Encontrei isto dentro de um poema
Estava deslocado
Sem nenhum sentido estar ali ao lado
Das palavras quentes
Dos sonhos latentes
Parecia gralha dentro de um morfema
Encontrei isto dentro de um poema
Estava desfocado
Quase lhe tocava, mesmo ali ao lado
Parecia halo, até dava pena
Encontrei isto dentro de um poema
Estava transviado
Pertence-te agora, já podes guardá-lo
Poderá um dia dar novo poema

sábado, junho 25, 2005

Sem rasto

Abri a excepção de te acolher
Corri o risco de dar forma aos teus silêncios
Toquei o mistério, padronizei o limite
Devolvi-te à tranquilidade dos teus segredos
Desaparecerás do traçado das minhas memórias
Como o risco fugaz da passagem de um cometa
Na órbita dos meus devaneios
Só o firmamento reterá o trajecto
Da extinção desse brilho no meu peito

quinta-feira, junho 23, 2005

eternidade

eternidade
dura
o
instante
em que
te abraço
assim
distante

ilusório
contorno
do espaço

não há
tempo

cansaço

quinta-feira, junho 16, 2005

A flor

Pontilha-se o olhar de constelações
que não desaparecem com o bater das pálpebras.
Experimentei a álgebra, a sintaxe,
o sossego das casas.
As borboletas a esvoaçar contra as paredes
do estômago.
Não há sabedoria bastante.
Pontualmente, os dias sucedem-se e isso vê-se nas flores.
E eu, constato que respirar é involuntário,
como despropositado o teu corpo
deitado no meu sonho.
Há uma permanência que asfixia.
Só queria uma ilha a sul onde acolher os pássaros.
Por isso, recolho a flor atrás da nuca
e sustenho a cor com as mãos em concha.
Os sons voltaram para cima dos ombros
mas cantam baixo
para que não os ouça.
Enquanto tudo permanecer inalterável
a minha vontade é um supérfluo logro.
Inventa-se a azáfama na paisagem do louco.
Não há sabedoria bastante.
É um instante longo e doloroso
que antecede a inércia da abastança.
Sobra tudo quando falta
na bravata do futuro
a flor da esperança.

quarta-feira, junho 15, 2005

adjectivado

amplo e inútil
feroz e táctil
desproporcionado
enredo de pele e medo
; volátil
frágeis constantes

perverso
o amor
sem amantes

segunda-feira, junho 06, 2005

Dos poemas vegetais

podemos açoitar o ar
lamentar
as horas onde crescem
vegetais
que o poema dá-se
noutro lugar
de nada serve a poesia
que cresce nas hortas das horas

o lugar da poesia
não está nas horas vazias
cresce nos dias
sobretudo naqueles onde não crescem vegetais

de nada serve a poesia
se não cresce nas hortas das horas
irreais

sexta-feira, junho 03, 2005

Está combinado.

Está combinado.
Mato-te a ti. Hoje.
Amanhã. Trocamos.
Vamos sentir. O alívio.
Permutado.
É mesmo assim. O amor.
Concordo. Subvertamos.
Matas-me a mim. Hoje.
Amanhã. Trocamos.
Vamos cumprir. O amor.
Está combinado.

quinta-feira, junho 02, 2005

Insecto


na indigência de afecto se oferece o sexo no extremo do corpO
zune o insecto no amplo espaço vagO
que historia o amoR
que há entre ti e o diabO

quarta-feira, junho 01, 2005

Sorvo breve

Não é nossa
a casa.
Nem dos corpos
somos donos.
Não há, por isso, nem
posse, nem abandono.
O que nos capta
é memória
Pela passagem, o
tempo empregue
E quem se
usa, acrescenta
Não abusa, reduz ou
tira para além do
Sorvo breve.