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sábado, fevereiro 12, 2005

Não quero então sonhar. Nem.

Lá vai a imaginação percorrer
em círculos as fronteiras do verbo.
Reduz-se o pensamento à medida das palavras.
Percebes agora porque te não digo?
Se digo a necessidade falta o horizonte
Se digo tempestade falta o tempo do corisco
Por isso têm plumas as flores
E são azuis os veios das pedras
E as aves não podem ser pássaros poisados mas a voar.
Se te trago enganadas as cores dos meus objectos
Como te poderei as formas dos meus sonhos trazer inteiras
Se só posso sonhar o verbo dentro das fronteiras?

Não quero então sonhar. Nem dizer. Então. Nem.

Transvio palavras mas são esquálidos retratos que lembram imagens de falácias
E não me agarras se me perco
Tanto quanto me perco nessas garras de ninguém.
Não me servem as palavras nem os sons nem as imagens
Se dentro delas não correr o vento dos avessos do pensamento.
Desumanizo no descalabro das cigarras
Se te disser velocidades fragmentadas
Como passeios à beira-mente
E ainda me sento cansada de dizer nada que te acrescente.

Os pássaros voam pelos veios azuis das pedras até às plumas das flores.

Mas ficam presos dentro das fronteiras do verbo
Num exercício geométrico de pavores.

Não quero então sonhar. Nem dizer. Então. Nem.
Há-de haver algum lugar além-palavra onde aguardar a primeira palavra-além.

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