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quarta-feira, junho 21, 2006

flores de vidro


se a memória
história acende
a enunciação é decrescente
ainda assim
sarando sulcos de navalha
volta o rubor
mil cuidados vestem a mão
que colhe e espalha
as flores de vidro do amor

[
escolher contar-te
os meus dias
seria dar-te um inventário. uma
morada. e não me encontras
no passado. estreio contigo. palavras. galopo os silêncios
entre elas. que nas ausências habito.
ter medo
é conhecer. a repetição
dos dias.

apenas escrevo
o volátil movimento dos dedos.
]

terça-feira, junho 20, 2006

lugar solitário


para que os jasmins
me contassem do sol
de hoje que perdi
voltei à noite
esse lugar
de encontros solitários
de mel nos lábios
e os cheiros todos
imaginários
da ausência de ti

segunda-feira, junho 12, 2006

espelhada


disseste
de um poema meu
a regra servir-lhe de alma
pensei - ousei, vê só! -
relancear por ele o esquadro
- e vi que estavas errado -
: a regra não era a alma
servir-lhe, nada a serve
muito menos um poema
- um poema que encarcere
doze cordas - sem dedilhar
o peito que lhe deu fado

dentro dele
presa não fui
escrevi-o - isso o confesso -
: dedilhando de mim pedaços
regrados dentro de um verso
a alma - a alma, atesto -
mirava-o pois que me sabe
espelhada
- mas no reverso

a regra que a tudo serve
serve-me a mim ao escrever
: estrutura no teu olhar
palavras, motes - rasar -
o dito por não dizer
se a melodia
te engana, parte a métrica
rouba a flama
à rima cega outro cego
segue o som - surdo, se a alma
não ouve chamar
quem o ama

segunda-feira, junho 05, 2006

desfragmentando imagens


reparo
que não me chegam as palavras
que as uso
enformadas
num padrão comum
para que me entendam
enquanto o faço
logro o tempo e o passo
pois que nem me digo
nem me entendem

então
de palavras
dispo-me
- engordei de imagens -
ágeis
crescem velozes
nada as prende
desenformam em algaraviadas
como extraviadas da mão que as rende

- assim vai meu pensamento -
desfragmentando imagens
à palavra em desmoronamento

domingo, junho 04, 2006

pés de lua


saem passos
detrás dos passos
de pés parados ao rés da rua
pés de lua
não caminham
voam
parados na mira
da pálpebra cerrada
pés e olhos
flutuam

sábado, junho 03, 2006

brilho


são
traços sem luz
os que desenham
poemas
à espera
que o brilho
dos teus olhos
lhes definam
as formas

sexta-feira, junho 02, 2006

Dar igual não sei


Como fazer
para no confronto da reciprocidade
recolher o espasmo
para não devolver humanidade?
Louca serei
isso eu sei
Carregar num saco atado a atrocidade
tanto desamor imposto
pela vulgar tarefa correcta da paridade!


Dar igual não sei
ao que é igual recebo e calo.
Darei
por certo estranhamente tanto
que é ralo o que parece
Pois fá-lo-ei no maquinal gesto
e erro o excesso só
para mim
Que sei dar igual
ao que igual quero
E dentro
definha inglório o manifesto
Que dar de mim
daria grata e sem protesto.