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quarta-feira, abril 26, 2006

Erra, amante!


Não quero ver horizontado
O sonho pequenino pululante
Que muda e nasce a cada instante
Em que o invento verticalizado
Como o amor - o amor de amante -
Que vive a vida própria do errante
Que erra e segue - erra e fica -
Ululante cada vez que é inventado
- porque, se o é - erra, amante! -
Preso és tu que o crês aprisionado

sexta-feira, abril 14, 2006

ficando


chega aqui
depressa
fica aqui
ficando
como sempre estás
mesmo não chamando
fica aqui
sem pressa
voltarás para dentro
de algum pensamento
que urdi
amando

sexta-feira, abril 07, 2006

também digo apenas


tenho pena que não entendas
como as palavras podem ser
barcos pontes passeios
ou simples festas - revolteios
e te entristeçam
também as digo sem que mas peçam
e passo as pontes
páro nos passeios
embarco nelas - pois são meus veleiros
e parece estrangeiro se me uso delas
enganas-te tantas vezes
quantas vacilas na memória
ao tentares ler-me história
se ao menos entendesses
as palavras em que apenas
livre e alegre
vou soltando a estória

terça-feira, abril 04, 2006

Na rede


Essa daqui, menino,
tem uma pele que só pede trópico,
uma sede de cachoeira e pés de areia,
cabelos na rede ao luar…

O pensamento
acoitado por vontades bárbaras
açoitado pelo pugilato de amores apáras
e no peito
a sem-vergonha do querer a inflar…

segunda-feira, abril 03, 2006

também é fala

era vária a palavra
por mais omissa que num não digo se escondesse
talvez mesmo por isso
o não disse disse tudo e se oferecesse

silêncio lhe chamaram erradamente
dando um nome à tal palavra não falada
silêncio é nada
não se equivoque o nome ao nomeá-la
que a palavra que não se dá
também é fala

sábado, abril 01, 2006

contigo


contigo aqui
na ponta dos dedos
- como quem diz no extremo de mim -
é longe suficiente
para nos sabermos ao pé
juntos é o contigo mais sincero
- nunca o em mim -
ainda que em nós o outro seja outro
e ao outro queiramos mesmo
tantos somos em nós
quantos tantos são outros no outro
que em nós descabemos
assim se dá que no outro outros achemos
de nós - de mim e de ti -
e de nós em nós - tantos outros de nós outros -
que de nós nos perdemos
somente juntos seremos os mesmos
sem outros outros querermos

contigo aqui
na ponta dos dedos
- como quem diz no extremo de mim -
pensei-te outro e não a ti
assim se trai a razão nos enredos
se em mim estás se te penso e não estás
estarás outro de ti em mim outra - a dos medos
e não aquele outro tu está aqui